segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ataque ou Transtorno do Pânico: um mal da contemporaneidade?


Atualizada em 27/04/2008 (20:49)


Ataque ou Transtorno do Pânico: um mal da contemporaneidade?


Marco Aurélio Martins / Agência A TARDE
Irismar de Oliveira, especialista em síndrome do pânico
Carolina Mendonça, do A TARDE On Line


Ao embarcar em um vôo para o Rio de Janeiro, em 2006, a arquiteta Claudia*, 29, começou a sentir palpitações, desconforto abdominal, ondas de calor pelo corpo, mas, acima de tudo, teve a certeza de que ia morrer. Com a impressão de que podia estar ficando "maluca", ela procurou atendimento médico e recebeu o diagnóstico: tinha tido um ataque de pânico. Mais comum entre adultos jovens, principalmente mulheres, a crise pode acometer pessoas que, por algum motivo (orgânico, psicológico ou situacional) estejam passando por um período de intensa ansiedade.
"É uma sensação muito ruim. Naquele momento, você tem certeza de que vai desmaiar ou de que algo horrível vai acontecer. A vontade é de fugir daquele lugar, daquela situação", relata a arquiteta. Mesmo depois de procurar ajuda profissional e iniciar um tratamento medicamentoso, associado à terapia, Claudia ainda passou por uma forte crise, também relacionada à viagens de avião, além de viver situações de pré-Ataque, as quais ela conseguiu controlar com medicação e respiração.
No caso de Beatriz*, 31, as crises duraram cerca de cinco anos. Durante este período, ela chegou a desmaiar em locais públicos. "Não dava tempo de avisar às pessoas ao meu redor do que se tratava. Acho que o corpo não aguentava a pressão", acredita. A advogada admite que, por conta do preconceito, demorou a aceitar a medicação indicada pelo psiquiatra e acredita que isso pode ter colaborado para o descontrole das crises.
Doença - As crises ou Ataques de Pânico fazem parte dos chamados Transtornos de Ansiedade, antigamente chamados de "neuroses". Durante os Ataques, que surgem repentinamente, a pessoa pode sentir extrema ansiedade, sensação de perigo ou morte iminente, falta de ar, dores no peito, tontura, entre outros. Os Ataques expontâneos e contínuos podem caracterizar o Transtorno ou Síndrome do Pânico. Na opinião do presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia, Bernardo Assis Filho, a doença não é um “mal do nosso tempo” e sempre existiu, pois a ansiedade - frente aos eventos da natureza, ao desconhecido - acompanha o homem desde os tempos imemoriais, mas não se pode descartar o estresse e as pressões sócio-econômicas como elementos que reforçam este sentimento.
Numa tentativa de “explicar” a doença, formou-se, nos últimos 40 anos, três linhas de pensamento. Uma corrente mais comportamental faz uma associação das crises à elementos que remetem a situações de extrema ansiedade ou medo. A linha ligada à psicanálise acredita que pode haver relação entre um desejo ou sentimento reprimido e o pânico. Há ainda uma corrente que acredita haver algum fator orgânico ou uma relação de hereditariedade. Existem também os que consideram arriscado definir uma causa para o transtorno.“As causas ainda são desconhecidas e podem ser a combinação de vários fatores. Em muitos casos, o trantorno pode ser, inclusive, um sintoma preditivo de depressão”, afirma Assis Filho.
Tratamento – Entre os médicos psiquiatras, não há um concenso em relação à possibilidade de cura da doença, mas é fato que o tratamento adequado pode melhorar bastante a qualidade de vida dos pacientes. Os tratamentos costumam utilizar uma combinação de sessões de terapia e medicações, se necessário. Ultimamente, a psiquiatria tem “apostado” mais nos antidepressivos e nos ansiolíticos, para os momentos de crise.
“Primeiro, deve-se tentar a terapia exclusivamente, principalmente para se ter uma maior clareza diagnóstica. Não conseguindo resultados apenas com as sessões realizadas nos consultórios, deve-se associar também medicamentos”, avalia Assis Filho.
Já o psiquiatra e professor da Faculdade de Psiquiatria da Universidade Federal da Bahia, Irismar de Oliveira, acredita na remissão total do Transtorno, por meio de uma terapia cognitivo-comportamental. Resumidamente, o tratamento consiste na reversão de crenças psicológicas distorcidas, enfrentamento e controle da ansiedade. Oliveira explica que os sintomas dos ataques, que seriam naturais e úteis numa situação real de perigo, são exacerbados involuntariamente, por conta de uma percepção tendenciosa do indivíduo que, diante do pânico instaurado, tende a querer fugir do desconforto extremo. “Com as sessões, em pouco tempo, a pessoa começa a ficar consciente do processo pelo qual está passando. Daí, sai da condição de incapacidade e começa a controlar a ansiedade, com o auxílio da respiração realizada de forma calma”, esclarece.
Ainda de acordo com Irismar, quando necessário o tratamento farmacológico, a escolha recai sobre os antidepressivos, pois os ansiolíticos, como o Valium, trazem o risco de dependência e devem ser usados por tempo muito limitado.
Em todos os casos, no entanto, depois de diagnosticado o Ataque ou Transtorno do Pânico por profissionais da área, os médicos recomendam que a família tenha uma atitude de compreensão e apoio, e nunca confundir a crise com uma “frescura” ou o que costumamos chamar de “pití”. “Quando tinha um Ataque, as pessoas diziam “calma, não é nada, vai passar”, aí meu desespero aumentava”, recorda Beatriz. Os médicos ressaltam que familiares e amigos devem entender que a doença não é uma escolha do indivíduo, portanto, não se deve fazer um julgamento moral da situação.

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